sexta-feira, 27 de abril de 2007

As pérolas são frias




Greta Garbo, cujo nome já diz tudo, surge na era da ascensão cinematográfica. Um ícone para as mulheres, uma fantasia para os homens. Apesar de toda sua beleza e rico talento, a atriz tinha uma peculiaridade, abordada por Roland Barthes em seu livro Mitologias: um rosto inexpressivo. Um paradoxo para uma atriz que ficou mundialmente conhecida por seu talento. Como conseguiu expressar as emoções bucólicas do cinema da década de 30 e ainda assim ser um mistério quanto aos seus sentimentos? Podemos até padronizar sua característica, como: “Talentosa, mas meio Greta Garbo” ou “Esse jeito Garbo de atuar”. Garbo era única e ainda hoje indecifrável.
Para uma análise ainda maior do que era a atriz, tomemos como exemplo seus filmes. Grande Hotel, ganhador do Oscar de 1932, conta a história de um hotel luxuoso de Berlim e seus hóspedes, incluindo uma bailarina famosa, interpretada por Garbo; e um pilantra que tenta roubá-la. A grande questão do filme é a paixão entre o ladrão e a vítima, que acontece em uma noite. Como a maioria dos filmes dessa época, Grande Hotel mostra um amor fulminante com o rosto de Garbo. O afeto que ela cria pelo picareta não se compara às suas cenas melancólicas. Como fã, posso assumir com toda convicção: Garbo apaixonada soa artificial. Seja neste filme, Dama das Camélias, Anna Karenina. Sempre o papel da mulher abandonada que encontra um grande amor.
Barthes compara sua feição com a das artistas posteriores ao seu período, como a sempre Bonequinha de Luxo, Audrey Hepburn. Não analiso a beleza das duas, que é indiscutível, mas a expressão. Hepburn era viva, radiava em qualquer papel, seja como uma bon vivant de Nova York ou a filha de um motorista apaixonada platonicamente pelo homem rico. Seu brilho era natural enquanto Garbo tinha uma luz baixa, obscura e subjetiva. No entanto, as duas fizeram parte do imaginário masculino e inveja feminina.
Essa beleza feminina é mutável. Garbo tinha um jeito reservado, com um rosto forte mas ainda assim carente. Hepburn é sinônimo de luxo, classe e vivacidade. A coisa da mulher admirada mais por suas características do que sua beleza caiu com Sophia Loren, com uma imagem sexy, dotes físico admiráveis e seu ar fatal. Ainda hoje, os ícones femininos são espelhos dessa geração 70: Angelina Jolie e sua boca copiada pela maioria; Pámela Anderson e seios turbinados; Juliana Paes e seu corpo invejável. Muitas, impossível citar todas.
Apesar de todas essas referências, Garbo ainda tem lugar no imaginário das pessoas. Seu rosto forte, seu olhar fulminante e sua risada misteriosa. Em qualquer parte do planeta, seu talento é indubitável e referência para as novas gerações cinematográficas. Única, indiscutivelmente. Ao contrário de sua famosa frase, Garbo não precisa ficar sozinha. No talento, ela está em um nível incomparável, a léguas de distância por seu jeito peculiar de atuar.
Escutando Snow Patrol - Chocolate

 
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